quinta-feira, 23 de junho de 2011

domingo, 5 de setembro de 2010

Partizan x Estrela Vermelha incendeia Belgrado


O Estrela Vermelha é a minha vida, nada mais tem importância" e "Eu daria a minha vida pelo Partizan" são alguns dos cantos que sobem das arquibancadas a cada edição do clássico de Belgrado. Os hinos dão uma boa ideia da paixão que cerca o duelo e do amor que os torcedores dedicam às suas camisas. Junte-se a isso rivalidades políticas, sociais e culturais e dois estádios separados por poucos metros e será possível compreender que os gigantes sérvios têm tudo para se detestarem cordialmente.

Embora o nível do "dérbi eterno" — Večiti Derbi para os seus protagonistas — tenha sofrido com a desintegração da Iugoslávia e a saída regular dos melhores talentos, a antipatia não diminuiu e talvez tenha até aumentado, para compensar a frustração do interesse esportivo. Assim, toda vez que acontece o encontro, há 60 anos, os Delije ("heróis") do Estrela Vermelha e os Grobari ("coveiros") do Partizan rivalizam em imaginação para incendiar o estádio — o que nem sempre é uma metáfora...

As origens
Nascidos com poucos meses de diferença, o Estrela Vermelha e o Partizan se originaram de dois órgãos políticos, como era comum nos países do leste europeu do pós-guerra. O Estrela foi criado no dia 4 de março de 1945 e representa o Partido Comunista. Já o Partizan foi fundado pelo Exército exatamente setes meses depois, em 4 de outubro. Assim como os clássicos entre Steaua e Dínamo em Bucareste ou Levski e CSKA em Sófia, o convívio entre Crveno-beli (alvirrubros) e Crno-beli (alvinegros) na Iugoslávia logo se tornou uma luta de poder entre os ministérios do Interior e da Defesa.

No entanto, para além desta guerra de influências, o dérbi de Belgrado adquiriu notoriedade sobretudo graças à qualidade das partidas. Em um país onde as crianças expressam o seu talento em todos os esportes e exibem grande desenvoltura técnica desde a mais tenra idade, os clubes sempre contaram com verdadeiros artistas da bola nas suas equipes e, durante muito tempo, o futebol sérvio foi considerado um dos melhores da Europa. A rivalidade ficou ainda mais forte após a fragmentação do futebol iugoslavo, já que o Hajduk Split e o Dínamo de Zagreb passaram a competir no Campeonato Croata.

Alguns números
O primeiro confronto aconteceu em janeiro de 1947 e terminou em vitória do Estrela Vermelha por 4 a 3. Contudo, ao final da temporada, foi o Partizan que levantou a taça da copa e do campeonato. O Zvezda (Estrela) teve de esperar até 1951 para conquistar o primeiro título de campeão nacional, embora tenha sido tricampeão da Copa da Iugoslávia entre 1948 e 1950. Desde então, o Partizan conta com 21 títulos (11 do Campeonato Iugoslavo e dez do Campeonato Sérvio) contra 25 do Estrela Vermelha (19 na era iugoslava).

Nas 137 edições do clássico válidas pelo campeonato, a balança pende para o lado dos alvirrubros, com 57 vitórias para 37 derrotas e 53 empates. A hegemonia se confirma também pelo número de gols marcados: 207 contra 168. Atualmente, porém, são os alvinegros que têm levado a melhor. Eles não perderam nenhum dos últimos seis dérbis.

Curiosidades e pequenas frases
Como em todos os clássicos, os torcedores desempenham um papel fundamental. Os Delije do Estrela Vermelha são, mesmo contra a vontade, responsáveis pelo alcunha dos rivais. Na década de 1970, eles ridicularizaram os adversários apelidando-os de "coveiros", já que o uniforme do time lembrava o dos funcionários dos cemitérios. Sem se abalarem, os alvinegros consideraram a designação intimidante e hoje a reivindicam com orgulho.

Outro tema de provocação: durante muito tempo, o Partizan se gabou de ser o primeiro clube do leste da Europa a ter chegado à final da Liga dos Campeões em 1966, embora tenha perdido para o Real Madrid. Mas as gozações duraram só até 1991, ano em que o Estrela Vermelha se sagrou campeão europeu. Desde então, e com a vitória na Copa Intercontinental logo em seguida, os Delije entoam a cada dérbi um "Estrela, da Sérvia à Tóquio", ao qual se segue obrigatoriamente um "Partizan, da Sérvia à... Sérvia."

Milan Bisevac, jogador do Lens e ex do Estrela Vermelha, não esqueceu o sabor desses duelos. "Em semana de clássico, a gente sente uma atmosfera diferente, a pressão começa a aumentar já na segunda-feira", conta o zagueiro. "É uma grande partida em um ambiente fantástico. No vestiário do Maracanã, antes do jogo, já dá para ouvir as torcidas. É de arrepiar." No Estádio Crvena Zvezda do Estrela Vermelha, mais conhecido como Maracanã de Belgrado, podiam se reunir mais de 100 mil pessoas quando a arena foi inaugurada. Em um clássico contra o Partizan, chegou a receber 108 mil torcedores!

Na atualidade
Na sua 138ª edição, o clássico eterno não poderia acontecer em momento mais propício. A três rodadas do fim do Campeonato Sérvio, o Partizan — campeão nos últimos dois anos e invicto na temporada — tem apenas um ponto de vantagem sobre o rival. Caso vença em casa, no Stadion Partizana, o clube ficará muito perto de conquistar o seu 11º título nacional. Já o Estrela Vermelha não levanta o caneco desde 2007. Para os seus fiéis seguidores, uma eternidade — como o tempo que ainda vai durar a rivalidade entre os dois gigantes de Belgrado

Celtic x Rangers - Muito mais que um classico


Existem muitos clássicos apaixonantes no mundo do futebol, mas poucos reúnem todos os ingredientes do Old Firm de Glasgow. O confronto tem uma história sem igual, talhada por uma longa inimizade mútua que ultrapassa em muito o âmbito esportivo.

Em todo o mundo, mesmo as pessoas que sabem pouco sobre Celtic e Rangers já ouviram falar das rixas e dos tumultos que irrompem em Glasgow quando os dois clãs partem para a batalha.

Origens
"Um encontro amistoso." Ironicamente, foi assim que a imprensa escocesa descreveu o primeiro clássico de Glasgow. O Rangers aceitou o convite para enfrentar o Celtic na partida inaugural do clube alviverde, no dia 28 de maio de 1888. Evidentemente, a cordialidade duraria pouco.

A rivalidade aumentou no mesmo ritmo que a hegemonia dos dois times na Escócia. De fato, a quantidade de torcedores e os cofres de ambos cresceram tanto que, em abril de 1904, um jornal muito popular fez um comentário malicioso sobre os lucros da "Velha Empresa Rangers-Celtic Ltda". Em inglês, "old firm" significa literalmente "velha empresa" e alude aos benefícios financeiros gerados pela contenda entre os dois gigantes de Glasgow. Desnecessário dizer que o apelido do duelo pegou.

A relação pode ter sido cordial no começo, mas as filosofias respectivas de cada clube tornaram o conflito inevitável. O Celtic foi fundado em novembro de 1887 por um padre católico irlandês com o único objetivo de financiar uma instituição de caridade dedicada a amenizar a pobreza da grande comunidade irlandesa de Glasgow. No entanto, também se esperava que o clube se transformasse em um símbolo de orgulho que congregasse os imigrantes oprimidos. Já o Rangers era o clube da elite e da maioria protestante da Escócia e, até 1989, manteve a política segregacionista de não contratar jogadores católicos.

Alguns números
Além dos fatores sociais, religiosos e políticos que fazem do Old Firm um confronto tão singular, nenhum outro clássico é disputado por duas equipes tão vitoriosas e hegemônicas em nível nacional. Celtic e Rangers ostentam juntos simplesmente 159 títulos do Campeonato Escocês e da Copa da Escócia, e a supremacia absoluta de ambos no campeonato nacional já se estende por 24 anos.

Considerando o clássico em si, o Rangers tem 152 vitórias contra 138 do Celtic, além do maior artilheiro da história do duelo, o ídolo Robert Hamilton, autor de 35 gols. Os clubes também registram o recorde britânico de público em uma partida de campeonato nacional, com 118.567 torcedores presentes no estádio do Rangers no dia 2 de janeiro de 1939. Em 1969, os clubes reuniram 132.870 pessoas na decisão da Copa da Escócia.

Histórias de clássicos passados
Ao vencer por 5 a 2 um clube com 16 anos a mais de experiência naquele primeiro jogo de 121 anos atrás, o Celtic estabeleceu uma tradição de imprevisibilidade no Old Firm que se mantém até hoje. Independentemente das circunstâncias ou da boa fase dos clubes, prever o resultado do clássico de Glasgow não é tarefa fácil. A final da Copa da Liga Escocesa de 1957 é o principal exemplo.

O Rangers, que buscava o segundo título consecutivo, chegou ao estádio Hampden Park como franco favorito diante de um Celtic em mau momento. Porém, o país testemunhou aquilo que o jornal Sunday Post descreveu como a "Revolução de Outubro". O Celtic venceu por 7 a 1 e estabeleceu um recorde britânico que ainda não foi superado: o de placar mais dilatado em uma final de copa nacional.

Na parte azul da cidade, a torcida do Rangers ainda saboreia a lembrança da centésima vitória sobre o rival em partidas válidas pelo Campeonato Escocês. O triunfo por 3 a 0 em pleno Celtic Park em 1999 garantiu a taça e desencadeou cenas violentas dentro e fora do estádio. Obviamente, por toda a paixão que o Old Firm desperta, boa parte da sua história é detestável e, como acontece com os grandes dramas, tem a sua quota de tragédia.

Em 1931, o jovem e brilhante goleiro do Celtic John Thomson sofreu uma lesão fatal na cabeça ao mergulhar nos pés de um atacante do Rangers, convertendo-se em uma figura trágica e emblemática do clube alviverde. Mas a pior catástrofe da história do clássico aconteceu em 1971. Enquanto o público deixava o Ibrox Park, 66 torcedores do Rangers morreram depois que uma das tribunas cedeu.

O lendário técnico do Celtic Jock Stein deixou o vestiário para ajudar os feridos e expressou a esperança de que o fatídico episódio levasse a um novo comportamento na cidade. "Essa tragédia terrível tem de ajudar a conter a intolerância e o ressentimento nos jogos do Old Firm", apelou Stein à época.

Atualmente
Embora tenha levado mais tempo do que Stein imaginava, o clássico de Glasgow sem dúvida ficou mais ameno nos últimos anos. Em 2008 foi possível até testemunhar uma inédita e comovente demonstração de união. Walter Smith e Ally McCoist, respectivamente técnico e assistente técnico do Rangers, ajudaram a carregar o caixão de Tommy Burns, ídolo do Celtic e da seleção escocesa e amigo pessoal de ambos.

FUTEBOL CULT: A lenda do “cavernoso” FC St. Pauli

A notoriedade do talvez mais lendário e cultuado clube de futebol alemão, o FC St. Pauli, que hoje participa da 2ª divisão da Bundesliga, não é devido às belas goleadas, técnicas que decidem um jogo ou até mesmo o brilhantismo de seus jogadores. É um clube idolatrado e respeitado pelos fãs por sua história – dramaticamente recheada de altos e baixos – e sua criatividade em rebater frustrações.
Desde sua fundação, em 1910, o FC St. Pauli está abrigado no bairro de mesmo nome, em Hamburgo, refletindo o caráter único dos moradores da região e lotando o estádio do Millerntor, onde treina e costuma jogar. Suas primeiras goleadas significativas foram dadas depois da II Guerra Mundial, quando chegou nas semifinais da liga regional norte. Em 1977 conseguiu alcançar o primeiro escalão da Bundesliga pela primeira vez.
As mudanças do bairro, com o agrupamento cada vez maior de estudantes, punks e artistas, acabou formando uma legião de fans alternativos nos meados da década de 80. Pela primeira vez uma bandeira com uma caveira foi hasteada no Millerntor, refletindo o jeito rebelde e lutador do clube e dos fãs, e que desde então é símbolo do FC St. Pauli.
Essa postura tornou-se mito em 1988, quando o clube conseguiu retornar ao primeiro escalão da Bundesliga após um jejum de 10 anos . Pode-se dizer que foram travadas verdadeiras lutas em campo contra clubes titãs do futebol alemão, embalada pela nova torcida. Também fora dos estádios, na área da política, o time deixou suas marcas: foi o primeiro a banir tendências de direita radical (neonazistas) de seu estádio, um exemplo seguido até hoje por vários outros clubes.
O time conseguiu se manter até 1991 na elite do futebol alemão, retornando em 1995. Em 1997 o time voltou à 2ª divisão, onde ficou até a temporada 2001/2002 – a última jogada no primeiro escalão. Com a doce lembrança de um futebol marcado pela criatividade, os fãs e jogadores jamais se esquecem da data histórica do dia 6 de fevereiro de 2002, quando a equipe venceu o FC Bayern München por 2x1 no Millerntor. Logo mandaram imprimir o slogan Weltpokalsiegerbesieger, que quer dizer algo como "vencedor sob o campeão do troféu mundial" em camisetas, até hoje vendidas nas lojas de artigos para fãs do FC St. Pauli.
Entretanto, a pior crise esportiva e financeira aconteceu na mesma temporada, quando o clube quase teve que fechar as portas. Graças à organização e ao apoio dos fãs, foi salvo por uma campanha inédita na história do futebol alemão: a chamada “Campanha Salvadora”, que incluiu a confecção e venda de camisetas com estampas e slogans, apelando para a salvação do clube. Não é à toa que ficaram conhecidas como Rettershirts, ou seja: camisetas salvadoras
Entre as ações dos fãs, ficou a inesquecível ação na Reeperbahn, onde valia o lema “beber por St. Pauli”. Até mesmo pedaços de gramado do estádio eram vendidos simbolicamente para reverter os lucros ao clube e sanear suas dívidas. As lojas de artigos de fans do time fazem cada vez mais sucesso entre os adeptos do clube.